29/11/2012 03:38
A indústria de celulose e papel tem diversos desafios à frente, como a substituição dos papéis gráficos pelos meios digitais e consequente queda de vendas, o acirramento da competição no setor e a tendência da China investir em produção de celulose, além da crise internacional. Contudo, há também oportunidades que poderão dar sustentação ao mercado, como a substituição de papel reciclado na Ásia por fibra virgem e as condições favoráveis nos segmentos de papel embalagem e tissue nos mercados emergentes. Estas oportunidades e desafios do setor foram tema de estudo apresentado em encontro com lideranças do setor, em São Paulo, por Jarkko Sairanen, presidente da Poyry Management Consulting - unidade de negócios do Grupo Poyry, líder em serviços de engenharia e consultoria para o setor de celulose e papel no Brasil e nos países onde atua. O segmento de papéis gráficos é o mais sensível hoje devido à acelerada queda nas vendas de jornais e revistas, em substituição ao formato digital.
Do patamar de 140 milhões de toneladas vendidas por esse segmento há 10 anos - dos quais 100 milhões nos mercados maduros e os demais 40 milhões de toneladas, nos emergentes -, a previsão é que as vendas caiam em 20 milhões de toneladas até 2025, com uma inversão também na ordem de magnitude do consumo, na qual os países maduros deverão responder por apenas 40 milhões de toneladas, e os emergentes, por 80 milhões de toneladas. "A revolução causada pela mídia eletrônica está apenas no início, e a indústria precisa entender que o impacto disso é muito importante para os diferentes tipos de papéis", destacou Jarkko Sairanen, ao observar que a crise financeira foi responsável apenas por uma parte da retração no mercado de papel e celulose - o outro fator foi a substituição dos meios impressos pelos digitais, o que reduziu o investimento de propaganda nesses veículos, no mercado norte-americano, de US$ 60 bilhões para US$ 20 bilhões. "Dois terços da receita foram perdidos, e a indústria de comunicação se pergunta como vai sobreviver", afirmou o presidente da Poyry Management Consulting. Nos mercados emergentes, boa parte do crescimento futuro virá dos papéis para embalagem, os quais apresentam enormes oportunidades de inovação. "As empresas estão inovando no desenvolvimento de embalagens para produtos farmacêuticos e em substituição a outros tipos de embalagem como a de plástico ou vidro - por exemplo, embalagens de papel -, o que vai representar um crescimento fundamental", conta Jarkko Sairanen. A Ásia - destacadamente a China -, responde hoje por 45% do mercado total de papel, e deverá incrementar sua demanda fortemente, com previsão de que seja responsável por 90% do incremento de consumo de papel como um todo até 2025. No segmento de embalagens, o crescimento dademanda será ainda mais forte. A questão, segundo o executivo da Poyry, é quais os efeitos disso na área de fibras. E aí desponta outra oportunidade interessante para a indústria brasileira atuar: a substituição dos papéis reciclados na Ásia por fibra virgem para a fabricação de papel. "O uso de papéis reciclados na Ásia ainda terá um incremento, mas depois vai decrescer, e não será suficiente para atender a maior demanda, devendo ser substituído pela fibra virgem, o que é uma boa noticia para a indústria de celulose", observou ele. Isto abrirá oportunidades, mas a indústria terá de ampliar seu nível de excelência operacional e competitividade para fazer frente à própria concorrência no mercado asiático e chinês, que deve se ampliar, seja com investimentos na produção de celulose, seja da parte de multinacionais da área de papel, que estão modernizando suas operações no mercado chinês, como Kimberly-Clark, UPM e Tetra-Pack, quanto de companhias chinesas como Huatai Group, APP, Huafang Paper, NNE Dragons Paper e China Paper, entre outras."Há 20 anos, havia uma vantagem inerente na plataforma brasileira, mas isso mudou e, face a esse cenário, torna-se fundamental ampliar a excelência operacional e usar a vantagem dos ativos, não só plantando mais", ressaltou Jarkko Sairanen, ao acrescentar que o aumento da produtividade e a maximização do lucro devem caminhar simultaneamente à criação do máximo de valor agregado a partir da fibra, por meio de produtos como os biocombustíveis, bioquímicos e biomateriais.
Fonte: Abigraf Nacional
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